La excepción, de Audur Ava Ólafsdóttir

Quinta-feira, 16 de julho de 2015



Concluída a leitura de La excepción, impõe-se esta questão - como reagiríamos se o amor das nossas vidas, com quem partilhamos um casamento perfeito, idílico, abruptamente nos anunciasse que quer terminar a relação, que nos quer deixar?
Flóki, na noite de passagem de ano, que simbolicamente representa o deixar o passado para trás e abraçar novos projetos, comunica a Maria que o seu casamento tem que terminar porque está apaixonado por outra pessoa, mais propriamente por outro homem. Faz este anúncio de forma tranquila, mas categórica, saindo da casa que dividia há onze anos com a mulher nessa mesma noite.
É desta forma cativante que a autora inicia a narrativa de La excepción. Contagiado que está o leitor, dificilmente não quererá prosseguir com a leitura. E foi isso que me sucedeu.
Maria narra em primeira pessoa o choque que procede ao anúncio do rompimento do seu casamento “de conto de fadas” e nas páginas que se seguem permite-nos ser “ a sua sombra”, ou seja, compartilha connosco todo o seu estupor inicial, a sua incredulidade, o “escavacar” nas recordações em busca de indícios que a ajudem a entender a decisão de Flóki e deixa ainda que nos “mudemos para sua casa” e acompanhemos o seu dia-a-dia de mulher recém-separada. Tudo isto nos chega através de uma perspetiva muito feminina, que me levou imensas vezes a anuir em jeito de compreensão perante pensamentos ou ações e a refletir sobre como reagiria eu se uma mudança tão dolorosa ocorresse na minha vida.
La excepción é então uma obra onde imperam as reflexões, as emoções, as recordações, o que de mais pessoal temos. Apesar de estar construída em capítulos muito curtinhos, não é uma obra cuja ação se desenrola rapidamente ou com acontecimentos imprevisíveis. É uma obra que vai muito ao encontro dos meus gostos, porque, por um lado, se centra nas personagens, no seu lado mais íntimo, mais revelador, mais nu e por outro porque nos “obriga” a criar laços com as mesmas, sejam eles de empatia, de antipatia ou de indiferença.
É muito fácil criar empatia com Maria. Como mulher, como mãe, como uma profissional que demonstra paixão pelo que faz. Sofri com a sua incredulidade, com o seu embrutecimento perante a reviravolta dorida que abalroou a sua existência, compreendi os seus gestos (vestir uma camisola do marido para ainda o sentir como “seu”, telefonar-lhe às horas mais estranhas para confrontá-lo com perguntas que precisavam de ser respondidas, fazer alguma ação drástica “só para ver se ele se tocava e entendia o quanto ela ainda lhe fazia falta”, enfim, gestos que, como mulher, percebo demasiadamente bem) e quis dar-lhe a mão para que não se sentisse tão desamparada e, ao mesmo tempo, para que pudesse recomeçar.
Também é fácil sentir uma clara simpatia pela sua vizinha, Perla. Será esta que, como conselheira matrimonial, escritora e sobretudo confidente, ajudará Maria, apoiando-a com os seus conselhos, com as analogias um pouco estapafúrdias e com a sua presença constante. Será ela que a guiará na escolha de um irremediável novo rumo.
Já Flóki não é uma personagem com quem nos possamos identificar de imediato. É um homem quase perfeito, um marido e pai modelo, sempre muito carinhoso com Maria, atento a cada detalhe, enche-a de mimos, mas está completamente dividido – por um lado, ama a sua família; por outro, não consegue evitar trair a mulher com outros homens em escapadelas frequentes. Como tal, toma a decisão que toma, pois tem consciência de que tem que experimentar esse caminho, mesmo que de vez em quando ainda retome os conhecidos desvios.
Estas são as personagens com mais relevo na obra. Há outras, como os gémeos de dois anos e meio, filhos de Maria e Flóki; o jovem vizinho de Maria e seu declarado admirador; os pais de Maria e de Flóki ou ainda o amante deste. Vamos conhecendo-os com menos detalhe, mas não deixam de ser uma parte importante de uma obra escrita com um estilo muito próprio, que nos apresenta as personagens, que nos apresenta a sua vida, mas que o faz com um tom grave, mas não dramático, daquele que puxa pela lágrima fácil. Aborda temas profundos como a perda de um companheiro que julgávamos para toda a vida, a busca da nossa verdadeira identidade, a sinceridade que é imperativa numa relação, a adoção, a desejada maternidade. Mas aborda-os com a necessária gravidade e, para mim, esse é um dos muitos aspetos positivos desta obra.
Outro desses aspetos positivos é o quanto o que nos é narrado em 291 páginas é tão verosímil. Falo da imprevisibilidade da nossa existência, das mudanças que podem surgir de um momento para o outro e que nos obrigam a saber como adaptar-nos a essa novas circunstâncias. Que nos obrigam a aprender.
Não posso deixar ainda de mencionar como me agradaram os diálogos entre Maria e Perla. Sempre acompanhados de comida e bebida. O que, na minha opinião, comprova o quanto o ato de partilhar reflexões, sentimentos está muitas vezes associado ao estar sentado à mesa.
Concluo fazendo a inevitável comparação entre La excepción e Rosa Candida, a primeira obra que li desta autora. É certo que gostei muito das duas, mas sinceramente preferi a que acabei de ler agora. Têm as duas um desenlace aberto, estão plenas de momentos que puxam pela reflexão, as histórias cativam, mas, por uma questão de géneros, identifiquei-me mais com Maria que com Lobbi, o protagonista masculino de Rosa Candida.
Por fim, quero agradecer às minhas espanholitas por me terem “regalado” este livro. Muchas gracias, os quiero a todas de una forma muy, muy especial J

NOTA – 09/10

Sinopsis

«Tú serás la última mujer de mi vida» es la confesión que escucha María una Nochevieja de boca de su marido, un matemático especialista en la teoría del caos que parecía el hombre perfecto. Perpleja por la separación, María debe afrontar también la repentina aparición de su padre biológico. Sin embargo, gracias al cortejo de un joven vecino aficionado a la ornitología y a la amistad entrañable de Perla, «doctora en Psicoanálisis, consejera matrimonial y escritora», sus pasos emprenden un nuevo rumbo.

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